Passeio na Praia

Passeio na Praia

Após ter adormecido na toalha de praia, deitado na areia quase branca que cobria todo o areal, tão fina que dava gosto ao tocar e tinha-se prazer ao senti-la passar por entre os dedos, tive um sonho que quando acordei deu-me uma enorme vontade de ir dar um longo passeio. Levantei-me, bocejei, espreguicei-me e suspirei. Um sorriso acabou por se esboçar espontaneamente no meu rosto e as minhas primeiras palavras, e também a primeira ideia que surgiu na minha cabeça, foram perguntar se quem estava comigo me acompanhava num passeio pelo areal que me atraía por tão longo que era. Éramos quase vinte, num grupo onde eu apenas conhecia o meu irmão, a namorada dele e mais um ou dois elementos... todos os outros eram estranhos para mim mas tinham-me recebido bem apesar do aspecto e estilo que eles tinham. Surfistas.... Rastas até ás costas, roupa assim um pouco diferentes das de que eu estava habituado a vestir e a ver, muitas tatuagens e piercings. Mas, num todo, pareciam ser muito simpáticos, divertidos e até com um nível intelectual acima daquilo que eu alguma vez pensaria. Desse grupo de vinte com quem eu estava, todos, ou quase todos, estavam, tal como eu tinha estado, a dormir.... Mas houve uma rapariga que, meia acordada, meia a dormir, respondeu-me afirmativamente com a cabeça e fez com os dois dedos o gesto de caminhar. Eu sorri e acenei com a cabeça confirmando o pedido dela e comecei a andar. Ela atou as fitas da parte de cima do biquíni, levantou-se, colocou uma fita no cabelo e deu uma corrida para junto de mim.

Não conhecia esta rapariga mas já tinha ouvido a namorada do meu irmão falar dela e de como elas duas se davam bem. Fomos mais de metade do caminho sem dizer uma palavra, nem um nem outro, apenas caminhava-mos, lado a lado, a sentir a brisa do mar, a ouvir as ondas a rebentarem e apreciando o mar, que apresentava todo o seu esplendor reflectindo o sol. Apenas falámos cruzando olhares e sorrisos quando a água nos tocava nos pés e sentíamos aquele arrepio de tão fria que a água estava. O sol estava a aquecer-nos e os nossos ombros e o nosso rosto começavam a ficar vermelhos. Num desses cruzamentos de olhares ela soltou um sorriso seguido de uma gargalhada. Eu parei e fiquei a olhar para ela sem perceber o porquê dela estar a rir. Ela puxou-me pelo braço e senti a pele macia da mão dela... morena, com as unhas arranjadas e uma pele tão macia, tão lisa que quando me largou eu pedia mentalmente para que ela me voltasse a agarrar. Levou-me para o bar da praia e apontou para o espelho. Eu vi-me ao espelho e tinha o nariz tão vermelho do sol que até eu sorri quando vi o meu rosto reflectido. Apercebi-me porque ela ria... eu parecia que tinha um nariz de palhaço. Olhei, procurando-a e ela estava junto da arca dos gelados com um ar de que eu lhe devia algo. Percebi o que era e dirigi-me para a caixa enquanto ela pedia o gelado. Paguei e segui-a, pois ela já tinha saído e retomado caminhada.

Quando novamente caminhávamos lado a lado ela parou a olhar para o mar. Eu parei junto a ela e perguntei-lhe o nome, apenas para confirmar se era a mesma rapariga de que a namorada do meu irmão tinha falado. Ela olhou em volta, fixou o olhar, sorriu e fez-me sinal com a mão para eu esperar... voltou com um ramo e escreveu com esse ramo Mariana na areia molhada. Olhou fixamente nos meus olhos com um sorriso como quem perguntava o meu. Estiquei a mão pedindo o ramo e escrevi Guga que é o nome pelo qual todos me conhecem. Ela terminou o gelado, olhou-me nos olhos como se me estivesse a analisar, riu, soltou o cabelo, ruivo, ondulado que cheirava a algum fruto parecido a coco mas estou convicto que não era coco. Inspirou fundo, olhou para mim, correu para a água e mergulhou. Eu fiquei perplexo pois á vinda tínhamos visto que a temperatura da água estava realmente muito baixa mas o calor que se fazia sentir e o aquela misteriosa rapariga ter ido foi o meu motivo para correr e mergulhar também. Quando vim ao de cima não a vi... apareceu de repente junto a mim a sorrir mostrando uma felicidade enorme em ali estar comigo. Atirou-me água e ambos a rir estivemos ali largos minutos... Depois a temperatura da água controlava já a temperatura do nosso corpo e ela mostrou-me a palma da mão já roxa. Eu olhei para a minha e ambos rimos. Rimos de uma coisa tão banal que ainda hoje não sei explicar o porquê. Saímos daquele mar azul, frio mas muito bonito e secámos os dois ao sol, agarrados. Caminhávamos de volta para junto do grupo com quem estávamos quando ela pára olhando-me nos olhos a sorrir. Os dentes lindos, os olhos cor de avelã, a pele dela tão lisa e delicada e aquele lindo cabelo ruivo deram-me vontade de a beijar mas não o fiz. Disse-lhe que a respeitava... ela sorriu e puxou-me pela mão encruzilhando os dedos nos meus.

Chegamos então junto do nosso grupo e todos já estavam acordados. Todos riam, os chapéus-de-sol colocados estrategicamente para tapar as geleiras com o comer e as bebidas, as toalhas todas juntas fazendo um enorme tapete e todos na conversa a comer. Juntámo-nos a eles e sentámo-nos lado a lado ainda de mãos dadas. Todos olharam e sorriram como sinal de aprovação. Eu fiquei meio atrapalhado, levantei-me e fui para junto do meu irmão... perguntei-lhe quem era a rapariga linda e extremamente interessante e fascinante que se me tinha apresentado como Mariana e me tinha acompanhado na caminhada. Ele sorriu e disse-me que sim que se chamava Mariana e que ela era muda.

Por instantes veio-me toda a caminhada á cabeça e lembrei-me de todos os pormenores... Levantei-me, olhei para ela e ela parecia estar com um ar de preocupada ou talvez triste. Sentei-me novamente junto a ela e ela fixou o olhar novamente nos meus olhos e aí não consegui resistir novamente e roubei-lhe um beijo. Ela depois sorriu e deu-me outro. Senti uma felicidade inexplicável e o sentir dos lábios dela nos meus foi como se todos os meus sentidos se tivessem concentrado naquele beijo. Separamo-nos com uma sandes atirada contra nós pelo meu irmão e a dizer-nos para comer que já devíamos ter fome. Olhámo-nos novamente, sorrimos, transparecendo a nossa intimidade e entendimento. Antes de irmos comer, agarrei-a para que não se levantasse e escrevi com o dedo na areia Mariana = Linda e Fascinante.

 

 

Escrito por Gonçalo Holtremann